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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Foral Manuelino de Lisboa de 7 de Agosto de 1500, Arquivo Municipal de Lisboa, AML-AH, [Chancelaria Régia]. (Clicar para ampliar)
Foral Manuelino de Lisboa de 7 de Agosto de 1500, Arquivo Municipal de Lisboa, AML-AH, [Chancelaria Régia]. (Clicar para ampliar)




Apesar de ter perdido grande parte da sua população, nos anos que se seguiram à Peste Negra de 1348 Lisboa ganhou também muitos novos habitantes, na sua maioria refugiados oriundos de outros locais do reino igualmente afectados pela pandemia e pelas suas consequências. Mas a cidade estava longe de ser o “paraíso” sonhado por todos esses imigrantes. A falta de trabalho lançava muitos deles na pobreza, na marginalidade e na mendicidade, agravando alguns dos problemas sociais característicos dos grandes centros urbanos da Idade Média. Porém, este fluxo migratório acarretava outro tipo de problemas, mormente a dificuldade de abastecer de forma eficaz um elevado número de bocas como as cerca de 35 000 que em finais do século XIV habitavam em Lisboa. E se em circunstâncias ditas normais já era difícil assegurar a subsistência de todos os lisboetas, em finais de Trezentos o quadro revelava-se ainda mais negro devido às crises cerealíferas, como as de 1355-1356 e 1364-1365.
Mas não eram apenas a doença e a fome, com todo o habitual cortejo de consequências nefastas – directas e indirectas – que afectavam negativamente a vida dos lisboetas. Assim, nas décadas de 1350 e de 1360 a capital foi também assolada por violentos sismos; em 1367 ou 1368, foi a vez de um incêndio destruir a Ribeira, a zona mais rica da urbe; mais tarde, na viragem do século XIV para o século XV, foram as marés-vivas a destruir parte da muralha que protegia a zona do Cata-que-Farás. Para além das pestes, das fomes, da instabilidade social e económica por elas provocada ou agravada e dos desastres naturais, a Lisboa de finais do século XIV foi afectada pela guerra, designadamente pelo cerco imposto em 1373 pelos exércitos de Henrique II de Castela. Foi a destruição deixada pelos castelhanos na zona extra-muros que levou D. Fernando, em 1373, a recuperar o projecto de dotar a cidade de uma nova cintura de muralhas.
A2–O Termo de Lisboa depois de 1385 (pub. por Maria Teresa Campos Rodrigues, Aspectos da Administração Municipal de Lisboa no Século XV, Separata da Revista Municipal nº 101 e 109, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1968, p. 23) [Clique para ampliar]
A2–O Termo de Lisboa depois de 1385 (pub. por Maria Teresa Campos Rodrigues, Aspectos da Administração Municipal de Lisboa no Século XV, Separata da Revista Municipal nº 101 e 109, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1968, p. 23) [Clique para ampliar]
Com uma extensão de aproximadamente 5,3 km, a cerca abrangia, na bolsa a leste da cerca moura, 26,6 hectares, e 61,2 hectares na que se situava a oeste da Cerca Velha, o que elevava a área amuralhada a mais de 100 hectares. A Cerca Fernandina era rasgada por 35 portas e defendida por 76 ou 77 torres. Foi, em grande medida, graças a esta estrutura que Lisboa resistiu, em 1384, a um novo cerco imposto pelas forças de D. Juan I de Castela, marido de D. Beatriz, apoiadas por um importante sector da sociedade portuguesa. O cerco foi, tudo o indica, mais violento que o de 1373, com os sitiadores a permanecer junto dos muros da cidade entre Maio e Outubro. A Lisboa dos anos finais de Trezentos e de inícios de Quatrocentos é, pois, marcada pelos efeitos dos dois cercos e de longos anos de crise demográfica, social, política, cerealífera e económica. Mas havia sinais de esperança e inúmeras expectativas depositadas em D. João I.
E um dos motivos pelos quais a cidade podia encarar o futuro com algum optimismo era o importante conjunto de mercês recebidas do rei na sequência do cerco de 1384: propriedades, isenções fiscais, perdão de dívidas e, acima de tudo, o redimensionamento do seu termo com a integração das vilas e termos de Sintra, Torres Vedras, Alenquer, Colares, Ericeira, Mafra e Vila Verde. Existem indicadores de uma lenta melhoria das condições de vida dos lisboetas a partir dos primeiros anos de Quatrocentos. A edificação do Bairro de Vila Nova, por exemplo, revela a existência de uma procura crescente de habitações com melhores condições. Obras como a do o mosteiro do Carmo ou do Paço dos Estaus atestam o momento de alguma prosperidade que então se vivia, acelerado, em grande medida, pela expansão militar para o Norte de África e pelas expedições de reconhecimento da costa ocidental africana, mas também pela colonização da ilha da Madeira.
Bibliografia
FONSECA, Luís Adão da, “Lisboa Medieval e o seu termo”, in Lisboa Subterrânea, Lisboa, Lisboa 94 / MNA, 1994, pp. 86-91.
MARQUES, A. H. de Oliveira, Nova História de Portugal, Vol. IV – Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV, Lisboa, Presença, 1987.
MARQUES, A. H. de Oliveira, “Lisboa Medieval: Uma visão de conjunto”, in Novos Ensaios de História Medieval Portuguesa, Lisboa, Presença, 1988, pp. 89-91.
MARTINS, Miguel Gomes, Lisboa e a Guerra (1367-1411), Lisboa, Livros Horizonte, 2001.
MARTINS, Miguel Gomes, A Vitória do Quarto Cavaleiro: O Cerco de Lisboa de 1384, Lisboa, Prefácio, 2006.
SILVA, Augusto Vieira da, A Cerca Fernandina de Lisboa, 2.ª edição, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1987, 2 vols.
KRUS, Luís, OLIVEIRA, Luís Filipe, FONTES, João Luís (coord.), Lisboa Medieval: Os Rostos da Cidade, Lisboa, Livros Horizonte, 2007.


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