FEIRA DA LADRA. REVISTA MENSAL ILUSTRADA – Dirigida por Manuel
Augusto Cardoso Marta e editada por A. Gusmão Navarro. Publicada em
Lisboa, entre 1929 e 1942, teve sede (Redacção e Administração) na Rua de
Santa Ana, à Lapa, 77, em Lisboa.
Além da menção em título a uma periodicidade mensal, não existem outras
referências que confirmem esse ritmo de edição. Pelo contrário, a revista segue
uma numeração de página contínua, por tomo, que não permite diferenciar
cada um dos números. Trata-se, portanto, de um produto concebido de forma a
possibilitar a posterior encadernação. A existência de um índice por tomo,
organizado por ordem alfabética, assim o confirma.
Cada tomo está referenciado a um ano e é, aparentemente, composto por seis
números. As reservas quanto ao número de edições por tomo prendem-se
com o facto de essa referência só constar, em rodapé de página, a partir de
1931 (Tomo III). Os números encadernados não apresentam capa, mas
provavelmente tinham-na e graficamente idêntica à capa do tomo.
Refira-se que a distribuição dos tomos pelos anos não é nem totalmente
sequencial nem tão pouco exacta. De acordo com a informação impressa na
capa de cada tomo, temos: Tomo I, de 1929; Tomo II, de 1930; Tomo III, de
1931; Tomo IV, de 1932; Tomo V, de 1933; Tomo VI, de 1934; Tomo VII, de
1935; Tomo VIII, de 1937; Tomo XIX, de 1940. Do que resulta que nos anos de
1936, 1938 e 1939 a Feira da Ladra não foi publicada. Acresce que, a partir de
1934, todos os tomos incluem textos com datas posteriores à do ano de edição.
Este desajuste estará relacionado, muito provavelmente, com as apertadas
regras da censura prévia, instituída pelo Decreto nº 22 469, de 11 de Abril de
1933. Aliás, no editorial de abertura do Tomo IX, Cardoso Marta (CM) assim o
parece confirmar: «Abre com este número o volume IX da nossa revista.
Embaraços de vária ordem, os mil óbices que entre nós conseguem quebrar as
mais enérgicas vontades e desfalecer as mais desinteressadas dedicações, já
acusados em anos precedentes, dilataram o aparecimento dêste número e têm
retardado o dos anteriores. Infelizmente, estes impedimentos não só se não
arredaram do nosso caminho, mas porventura se têm acrescido e avigorado
com a incerteza angustiosa da época que estamos vivendo.»
No preçário impresso na capa (posterior) do tomo, apenas constam os preços
para a assinatura de seis números (20 escudos) e venda avulso (4 escudos).
Não há qualquer informação sobre os canais de distribuição e venda da revista.
Cada número possui, em média, entre 40 a 48 páginas, um quarto das quais
são ilustradas por gravuras e fotografias.
No que concerne aos seus conteúdos, a Feira da Ladra não apresenta uma
estrutura organizativa por secções muito evidente. Aliás, o termo “secção”
apenas é assumido nos casos «Poeira dos Tempos» e «Livros & Revistas». A
primeira, aparece no nº 6, do Tomo I (1929), e CM apresenta-a como nova
«secção, que nos foi sugerida por alguns dos nossos leitores e sairá de tempos
a tempos, uma compilação de notícias acerca de indivíduos, sucessos, 2
monumentos, papeis e objectos raros ou curiosos que formos arpoando, aqui e
além, em jornais e revistas, livros, folhetos, folhas soltas e manuscritos, até ao
meado do século findo.» É a mais duradoira, marcando presença nos 9 tomos
da revista. A segunda, está presente nos Tomos IV e V, e o anúncio da sua
supressão é justificado por razões de espaço: «A-fim-de deixar à revista Feira
da Ladra maior amplitude de acção e mais largo espaço para inserção de
escritos da sua especialidade, serão doravante estampadas nas páginas de O
Bibliófilo as notícias dos livros e revistas enviadas àquela publicação».
Ainda assim, atendendo à sua recorrente presença em diferentes números,
poder-se-ão considerar outras secções como, «Poetisas Portuguesas no
século XVIII» (T I, II), «Curiosidades e Indicações Úteis e Preciosas» (T III, IV e
VI), «Epistolário» (T III, IV, V, VI, VIII, IX); «Nótulas de Viagens» (T VI, VII, VIII,
IX), «Usos e costumes da Ilha da Madeira» (T VII, VIII), «Recordando o
Passado» (T VII, VIII).
Logo no primeiro número, CM esclarece os potenciais leitores sobre a forma e
o conteúdo da publicação. A sua primeira preocupação é sossegá-los quanto á
simplicidade e dimensão dos textos: «Nada de estirados aranzéis, que, falando
muito, informam pouco. Pão, pão − queijo, queijo». O emprego de uma
linguagem familiar − como aliás o próprio título da publicação − reforça a ideia
de que se trata de uma edição que pretende alcançar um público alargado.
No mesmo sentido aponta o facto de o lançamento ter sido previamente
anunciado através de um prospecto, conforme refere CM no número em
análise.
E do que trata a Feira da Ladra para interessar a um público alargado? Trata
sobretudo do passado, «do viver doutras eras, se não melhor, ao menos mais
animado, mais pitoresco, mais clareado da alta chama da fé, da confiança nas
virtudes da raça e da esperança num futuro, que uma geração apoucada veio
infelizmente retardar». É cheio de significado este trecho do editorial de CM. É
evidente que na sua perspectiva há uma linha que divide o “passado” do país
em: um tempo, mais longínquo, temperado de «esperança num futuro», e um
outro tempo, mais recente, dominado por uma «geração apoucada» que
retardou esse futuro. Refere-se provavelmente à 1ª Republica. É uma visão
partilhada por muitos e que, em última instância, explica o sucesso da
revolução de 28 de Maio de 1926 (que colocou no poder a ditadura militar que
antecedeu o Estado Novo).
Dois anos depois, António Oliveira Salazar assume a pasta das Finanças e
anuncia que é tempo de «Tomar resolutamente nas mãos as tradições
respeitáveis do passado, as realidades do presente, os frutos da experiência
própria e alheia, (…) as justas aspirações dos povos, a ânsia de autoridade e
disciplina que agita as gerações do nosso tempo, e construir a nova ordem de
coisas que, sem excluir aquelas verdades substanciais a todos os sistemas
políticos, melhor se ajuste ao nosso temperamento e às nossas
necessidades».
A Feira da Ladra, ao definir-se como «um armazém de velharias; um
repositório de notícias úteis; um divulgador de inéditos e curiosidades; um 3
orientador de bom gosto; uma fonte inspirativa de artistas e escritores; e,
finalmente, uma leitura sã e instrutiva» manifesta uma sintonia com o
discurso governativo, ou seja com o seu propósito de fazer renascer o
esplendor da Pátria, maltratado por anos de discórdia, de desinteligências
políticas, de desordem e de quase guerra civil: os anos finais da monarquia e
os da 1ª República.
Tal não significa que os colaboradores da Feira da Ladra (e foram muitos)
fossem simpatizantes do governo e que a publicação se prestasse à promoção
das suas políticas. O objecto da revista era o passado e não o presente; o
noticiário é praticamente inexistente. A sintonia verifica-se sim no plano
ideológico, e ainda assim com algumas clivagens.
O que ecoa pelas páginas da Feira da Ladra é o discurso nacionalista que
marcou este período e que tem como referências fundamentais, o território, a
nação, a história e as tradições.
Episódios dos descobrimentos marítimos e da colonização alimentam a tese
de um território nacional alargado − contemplando além da parcela
metropolitana, os arquipélagos atlânticos dos Açores, Madeira, S. Tomé e
Príncipe e Cabo Verde, o território da Guiné, o de Angola e o de Moçambique,
em Africa, Goa, Damão e Diu na Índia e a parte portuguesa da ilha de Timor -,
mas inalienável. Uma perspectiva que não era novidade, foi mesmo a razão do
envolvimento português na 1ª Grande Guerra.
A heráldica, a numismática, os monumentos, factos heróicos e acções
abnegadas de personagens quase míticas, dão testemunho de uma nação
estável que soma oitocentos anos de História.
Mais do que a história, a Feira da Ladra exalta a tradição. Os costumes, as
formas atávicas de fazer as coisas, de trabalhar, são tema de numerosos
textos: «Lenços de Namorados»; «”Modesto” jantar de outros Tempos»;
«Reconstituição de um traje alentejano decaído no último quartel do século
XIX», entre outros. São elementos fundamentais para a definição do que era
Portugal, e as diferenças regionais em nada obstam à unidade, à coesão, antes
são tidos como parte da identidade nacional.
Lisboa e os seus habitantes são, naturalmente, um tema recorrente na Feira
da Ladra. É ela, afinal, o centro nevrálgico e histórico da Pátria.
Também a arte, nas suas mais diversas formas de expressão, e os artistas
nacionais, são objecto da atenção da Feira da Ladra. No campo da literatura,
sublinhe-se o facto de ter revelado vários inéditos de Camilo Castelo Branco,
de D. Carlota Joaquina, de Manuel Fernandes Tomás e de Vieira Lusitano.
Importa ainda sublinhar os critérios de qualidade e rigor que regem a Feira
da Ladra. É notória a preocupação em referenciar no tempo e no espaço os
documentos reproduzidos, de informar o leitor da sua proveniência
(fornecendo, no caso de documentos pertencentes ao espólio de arquivos ou
bibliotecas, as respectivas cotas) e de disponibilizar bibliografia complementar. 4
Cuidados que decorrem das habilitações académicas e profissionais dos
seus colaboradores, muitos dos quais com cargos de direcção em instituições
como a Academia das Ciências de Lisboa, a Academia Brasileira de Letras, a
Associação dos Arqueólogos Portugueses, a Escola de Belas Artes de Lisboa,
a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, o Instituto Histórico do
Minho, o Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, o Museu
Municipal do Porto, a Sociedade Nacional de Belas-Artes, entre outros. No
final do Tomo IX consta uma lista exaustiva com os nomes de todos os
colaboradores da Feira da Ladra.
O fim da publicação é anunciado no último número do Tomo IX, através de
um texto, não assinado, intitulado «Ao Fechar a Porta». Pela forma como está
redigido e de acordo com as “regras” editoriais da revista, a autoria é do
Director, ainda Cardoso Marta. E é em tom amargo que evoca os nove anos de
vida Feira da Ladra, «nove anos de esforço, nem sempre aproveitado; de
sacrifício, nem sempre compreendido; de cuidados, nem sempre dissipados;
de dispêndio material, nem sempre recompensado».
Bibliografia: FRANÇA, José Augusto, A arte em Portugal no séc. XX: 1911-
1961, Venda-Nova, Bertrand, 1991; MARTINS, António Viana, Da I República
ao Estado Novo, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1976; PIRES, Daniel, Dicionário
da Imprensa Literária Portuguesa do séc. XX, Lisboa, Grifo, 1996;
TENGARRINHA, José, História da Imprensa Periódica Portuguesa, 2.ª Edição,
Lisboa, Caminho, 1989; «Feira da Ladra» e «Marta, António Augusto Cardoso»
in Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa/Rio de Janeiro, 1989.
Rita Correia,
(15.01.2007)
Augusto Cardoso Marta e editada por A. Gusmão Navarro. Publicada em
Lisboa, entre 1929 e 1942, teve sede (Redacção e Administração) na Rua de
Santa Ana, à Lapa, 77, em Lisboa.
Além da menção em título a uma periodicidade mensal, não existem outras
referências que confirmem esse ritmo de edição. Pelo contrário, a revista segue
uma numeração de página contínua, por tomo, que não permite diferenciar
cada um dos números. Trata-se, portanto, de um produto concebido de forma a
possibilitar a posterior encadernação. A existência de um índice por tomo,
organizado por ordem alfabética, assim o confirma.
Cada tomo está referenciado a um ano e é, aparentemente, composto por seis
números. As reservas quanto ao número de edições por tomo prendem-se
com o facto de essa referência só constar, em rodapé de página, a partir de
1931 (Tomo III). Os números encadernados não apresentam capa, mas
provavelmente tinham-na e graficamente idêntica à capa do tomo.
Refira-se que a distribuição dos tomos pelos anos não é nem totalmente
sequencial nem tão pouco exacta. De acordo com a informação impressa na
capa de cada tomo, temos: Tomo I, de 1929; Tomo II, de 1930; Tomo III, de
1931; Tomo IV, de 1932; Tomo V, de 1933; Tomo VI, de 1934; Tomo VII, de
1935; Tomo VIII, de 1937; Tomo XIX, de 1940. Do que resulta que nos anos de
1936, 1938 e 1939 a Feira da Ladra não foi publicada. Acresce que, a partir de
1934, todos os tomos incluem textos com datas posteriores à do ano de edição.
Este desajuste estará relacionado, muito provavelmente, com as apertadas
regras da censura prévia, instituída pelo Decreto nº 22 469, de 11 de Abril de
1933. Aliás, no editorial de abertura do Tomo IX, Cardoso Marta (CM) assim o
parece confirmar: «Abre com este número o volume IX da nossa revista.
Embaraços de vária ordem, os mil óbices que entre nós conseguem quebrar as
mais enérgicas vontades e desfalecer as mais desinteressadas dedicações, já
acusados em anos precedentes, dilataram o aparecimento dêste número e têm
retardado o dos anteriores. Infelizmente, estes impedimentos não só se não
arredaram do nosso caminho, mas porventura se têm acrescido e avigorado
com a incerteza angustiosa da época que estamos vivendo.»
No preçário impresso na capa (posterior) do tomo, apenas constam os preços
para a assinatura de seis números (20 escudos) e venda avulso (4 escudos).
Não há qualquer informação sobre os canais de distribuição e venda da revista.
Cada número possui, em média, entre 40 a 48 páginas, um quarto das quais
são ilustradas por gravuras e fotografias.
No que concerne aos seus conteúdos, a Feira da Ladra não apresenta uma
estrutura organizativa por secções muito evidente. Aliás, o termo “secção”
apenas é assumido nos casos «Poeira dos Tempos» e «Livros & Revistas». A
primeira, aparece no nº 6, do Tomo I (1929), e CM apresenta-a como nova
«secção, que nos foi sugerida por alguns dos nossos leitores e sairá de tempos
a tempos, uma compilação de notícias acerca de indivíduos, sucessos, 2
monumentos, papeis e objectos raros ou curiosos que formos arpoando, aqui e
além, em jornais e revistas, livros, folhetos, folhas soltas e manuscritos, até ao
meado do século findo.» É a mais duradoira, marcando presença nos 9 tomos
da revista. A segunda, está presente nos Tomos IV e V, e o anúncio da sua
supressão é justificado por razões de espaço: «A-fim-de deixar à revista Feira
da Ladra maior amplitude de acção e mais largo espaço para inserção de
escritos da sua especialidade, serão doravante estampadas nas páginas de O
Bibliófilo as notícias dos livros e revistas enviadas àquela publicação».
Ainda assim, atendendo à sua recorrente presença em diferentes números,
poder-se-ão considerar outras secções como, «Poetisas Portuguesas no
século XVIII» (T I, II), «Curiosidades e Indicações Úteis e Preciosas» (T III, IV e
VI), «Epistolário» (T III, IV, V, VI, VIII, IX); «Nótulas de Viagens» (T VI, VII, VIII,
IX), «Usos e costumes da Ilha da Madeira» (T VII, VIII), «Recordando o
Passado» (T VII, VIII).
Logo no primeiro número, CM esclarece os potenciais leitores sobre a forma e
o conteúdo da publicação. A sua primeira preocupação é sossegá-los quanto á
simplicidade e dimensão dos textos: «Nada de estirados aranzéis, que, falando
muito, informam pouco. Pão, pão − queijo, queijo». O emprego de uma
linguagem familiar − como aliás o próprio título da publicação − reforça a ideia
de que se trata de uma edição que pretende alcançar um público alargado.
No mesmo sentido aponta o facto de o lançamento ter sido previamente
anunciado através de um prospecto, conforme refere CM no número em
análise.
E do que trata a Feira da Ladra para interessar a um público alargado? Trata
sobretudo do passado, «do viver doutras eras, se não melhor, ao menos mais
animado, mais pitoresco, mais clareado da alta chama da fé, da confiança nas
virtudes da raça e da esperança num futuro, que uma geração apoucada veio
infelizmente retardar». É cheio de significado este trecho do editorial de CM. É
evidente que na sua perspectiva há uma linha que divide o “passado” do país
em: um tempo, mais longínquo, temperado de «esperança num futuro», e um
outro tempo, mais recente, dominado por uma «geração apoucada» que
retardou esse futuro. Refere-se provavelmente à 1ª Republica. É uma visão
partilhada por muitos e que, em última instância, explica o sucesso da
revolução de 28 de Maio de 1926 (que colocou no poder a ditadura militar que
antecedeu o Estado Novo).
Dois anos depois, António Oliveira Salazar assume a pasta das Finanças e
anuncia que é tempo de «Tomar resolutamente nas mãos as tradições
respeitáveis do passado, as realidades do presente, os frutos da experiência
própria e alheia, (…) as justas aspirações dos povos, a ânsia de autoridade e
disciplina que agita as gerações do nosso tempo, e construir a nova ordem de
coisas que, sem excluir aquelas verdades substanciais a todos os sistemas
políticos, melhor se ajuste ao nosso temperamento e às nossas
necessidades».
A Feira da Ladra, ao definir-se como «um armazém de velharias; um
repositório de notícias úteis; um divulgador de inéditos e curiosidades; um 3
orientador de bom gosto; uma fonte inspirativa de artistas e escritores; e,
finalmente, uma leitura sã e instrutiva» manifesta uma sintonia com o
discurso governativo, ou seja com o seu propósito de fazer renascer o
esplendor da Pátria, maltratado por anos de discórdia, de desinteligências
políticas, de desordem e de quase guerra civil: os anos finais da monarquia e
os da 1ª República.
Tal não significa que os colaboradores da Feira da Ladra (e foram muitos)
fossem simpatizantes do governo e que a publicação se prestasse à promoção
das suas políticas. O objecto da revista era o passado e não o presente; o
noticiário é praticamente inexistente. A sintonia verifica-se sim no plano
ideológico, e ainda assim com algumas clivagens.
O que ecoa pelas páginas da Feira da Ladra é o discurso nacionalista que
marcou este período e que tem como referências fundamentais, o território, a
nação, a história e as tradições.
Episódios dos descobrimentos marítimos e da colonização alimentam a tese
de um território nacional alargado − contemplando além da parcela
metropolitana, os arquipélagos atlânticos dos Açores, Madeira, S. Tomé e
Príncipe e Cabo Verde, o território da Guiné, o de Angola e o de Moçambique,
em Africa, Goa, Damão e Diu na Índia e a parte portuguesa da ilha de Timor -,
mas inalienável. Uma perspectiva que não era novidade, foi mesmo a razão do
envolvimento português na 1ª Grande Guerra.
A heráldica, a numismática, os monumentos, factos heróicos e acções
abnegadas de personagens quase míticas, dão testemunho de uma nação
estável que soma oitocentos anos de História.
Mais do que a história, a Feira da Ladra exalta a tradição. Os costumes, as
formas atávicas de fazer as coisas, de trabalhar, são tema de numerosos
textos: «Lenços de Namorados»; «”Modesto” jantar de outros Tempos»;
«Reconstituição de um traje alentejano decaído no último quartel do século
XIX», entre outros. São elementos fundamentais para a definição do que era
Portugal, e as diferenças regionais em nada obstam à unidade, à coesão, antes
são tidos como parte da identidade nacional.
Lisboa e os seus habitantes são, naturalmente, um tema recorrente na Feira
da Ladra. É ela, afinal, o centro nevrálgico e histórico da Pátria.
Também a arte, nas suas mais diversas formas de expressão, e os artistas
nacionais, são objecto da atenção da Feira da Ladra. No campo da literatura,
sublinhe-se o facto de ter revelado vários inéditos de Camilo Castelo Branco,
de D. Carlota Joaquina, de Manuel Fernandes Tomás e de Vieira Lusitano.
Importa ainda sublinhar os critérios de qualidade e rigor que regem a Feira
da Ladra. É notória a preocupação em referenciar no tempo e no espaço os
documentos reproduzidos, de informar o leitor da sua proveniência
(fornecendo, no caso de documentos pertencentes ao espólio de arquivos ou
bibliotecas, as respectivas cotas) e de disponibilizar bibliografia complementar. 4
Cuidados que decorrem das habilitações académicas e profissionais dos
seus colaboradores, muitos dos quais com cargos de direcção em instituições
como a Academia das Ciências de Lisboa, a Academia Brasileira de Letras, a
Associação dos Arqueólogos Portugueses, a Escola de Belas Artes de Lisboa,
a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, o Instituto Histórico do
Minho, o Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, o Museu
Municipal do Porto, a Sociedade Nacional de Belas-Artes, entre outros. No
final do Tomo IX consta uma lista exaustiva com os nomes de todos os
colaboradores da Feira da Ladra.
O fim da publicação é anunciado no último número do Tomo IX, através de
um texto, não assinado, intitulado «Ao Fechar a Porta». Pela forma como está
redigido e de acordo com as “regras” editoriais da revista, a autoria é do
Director, ainda Cardoso Marta. E é em tom amargo que evoca os nove anos de
vida Feira da Ladra, «nove anos de esforço, nem sempre aproveitado; de
sacrifício, nem sempre compreendido; de cuidados, nem sempre dissipados;
de dispêndio material, nem sempre recompensado».
Bibliografia: FRANÇA, José Augusto, A arte em Portugal no séc. XX: 1911-
1961, Venda-Nova, Bertrand, 1991; MARTINS, António Viana, Da I República
ao Estado Novo, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1976; PIRES, Daniel, Dicionário
da Imprensa Literária Portuguesa do séc. XX, Lisboa, Grifo, 1996;
TENGARRINHA, José, História da Imprensa Periódica Portuguesa, 2.ª Edição,
Lisboa, Caminho, 1989; «Feira da Ladra» e «Marta, António Augusto Cardoso»
in Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa/Rio de Janeiro, 1989.
Rita Correia,
(15.01.2007)
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