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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

FEIRA DA LADRA. REVISTA MENSAL ILUSTRADA – Dirigida por Manuel 
Augusto Cardoso Marta e editada por A. Gusmão Navarro. Publicada em 
Lisboa, entre 1929 e 1942, teve sede (Redacção e Administração) na Rua de 
Santa Ana, à Lapa, 77, em Lisboa. 

Além da menção em título a uma periodicidade mensal, não existem outras 
referências que confirmem esse ritmo de edição. Pelo contrário, a revista segue 
uma numeração de página contínua, por tomo, que não permite diferenciar 
cada um dos números. Trata-se, portanto, de um produto concebido de forma a 
possibilitar a posterior encadernação. A existência de um índice por tomo, 
organizado por ordem alfabética, assim o confirma. 

Cada tomo está referenciado a um ano e é, aparentemente, composto por seis 
números. As reservas quanto ao número de edições por tomo prendem-se 
com o facto de essa referência só constar, em rodapé de página, a partir de 
1931 (Tomo III). Os números encadernados não apresentam capa, mas 
provavelmente tinham-na e graficamente idêntica à capa do tomo. 

Refira-se que a distribuição dos tomos pelos anos não é nem totalmente 
sequencial nem tão pouco exacta. De acordo com a informação impressa na 
capa de cada tomo, temos: Tomo I, de 1929; Tomo II, de 1930; Tomo III, de 
1931; Tomo IV, de 1932; Tomo V, de 1933; Tomo VI, de 1934; Tomo VII, de 
1935; Tomo VIII, de 1937; Tomo XIX, de 1940. Do que resulta que nos anos de 
1936, 1938 e 1939 a Feira da Ladra não foi publicada. Acresce que, a partir de 
1934, todos os tomos incluem textos com datas posteriores à do ano de edição. 

Este desajuste estará relacionado, muito provavelmente, com as apertadas 
regras da censura prévia, instituída pelo Decreto nº 22 469, de 11 de Abril de 
1933. Aliás, no editorial de abertura do Tomo IX, Cardoso Marta (CM) assim o 
parece confirmar: «Abre com este número o volume IX da nossa revista. 
Embaraços de vária ordem, os mil óbices que entre nós conseguem quebrar as 
mais enérgicas vontades e desfalecer as mais desinteressadas dedicações, já 
acusados em anos precedentes, dilataram o aparecimento dêste número e têm 
retardado o dos anteriores. Infelizmente, estes impedimentos não só se não 
arredaram do nosso caminho, mas porventura se têm acrescido e avigorado 
com a incerteza angustiosa da época que estamos vivendo.» 

No preçário impresso na capa (posterior) do tomo, apenas constam os preços 
para a assinatura de seis números (20 escudos) e venda avulso (4 escudos). 
Não há qualquer informação sobre os canais de distribuição e venda da revista. 

Cada número possui, em média, entre 40 a 48 páginas, um quarto das quais 
são ilustradas por gravuras e fotografias. 

No que concerne aos seus conteúdos, a Feira da Ladra não apresenta uma 
estrutura organizativa por secções muito evidente. Aliás, o termo “secção” 
apenas é assumido nos casos «Poeira dos Tempos» e «Livros & Revistas». A 
primeira, aparece no nº 6, do Tomo I (1929), e CM apresenta-a como nova 
«secção, que nos foi sugerida por alguns dos nossos leitores e sairá de tempos 
a tempos, uma compilação de notícias acerca de indivíduos, sucessos,  2
monumentos, papeis e objectos raros ou curiosos que formos arpoando, aqui e 
além, em jornais e revistas, livros, folhetos, folhas soltas e manuscritos, até ao 
meado do século findo.» É a mais duradoira, marcando presença nos 9 tomos 
da revista. A segunda, está presente nos Tomos IV e V, e o anúncio da sua 
supressão é justificado por razões de espaço: «A-fim-de deixar à revista Feira 
da Ladra maior amplitude de acção e mais largo espaço para inserção de 
escritos da sua especialidade, serão doravante estampadas nas páginas de O 
Bibliófilo as notícias dos livros e revistas enviadas àquela publicação». 

Ainda assim, atendendo à sua recorrente presença em diferentes números, 
poder-se-ão considerar outras secções como, «Poetisas Portuguesas no 
século XVIII» (T I, II), «Curiosidades e Indicações Úteis e Preciosas» (T III, IV e 
VI), «Epistolário» (T III, IV, V, VI, VIII, IX); «Nótulas de Viagens» (T VI, VII, VIII, 
IX), «Usos e costumes da Ilha da Madeira» (T VII, VIII), «Recordando o 
Passado» (T VII, VIII). 

Logo no primeiro número, CM esclarece os potenciais leitores sobre a forma e 
o conteúdo da publicação. A sua primeira preocupação é sossegá-los quanto á 
simplicidade e dimensão dos textos: «Nada de estirados aranzéis, que, falando 
muito, informam pouco. Pão, pão − queijo, queijo». O emprego de uma 
linguagem familiar − como aliás o próprio título da publicação − reforça a ideia 
de que se trata de uma edição que pretende alcançar um público alargado. 
No mesmo sentido aponta o facto de o lançamento ter sido previamente 
anunciado através de um prospecto, conforme refere CM no número em 
análise. 

E do que trata a Feira da Ladra para interessar a um público alargado? Trata 
sobretudo do passado, «do viver doutras eras, se não melhor, ao menos mais 
animado, mais pitoresco, mais clareado da alta chama da fé, da confiança nas 
virtudes da raça e da esperança num futuro, que uma geração apoucada veio 
infelizmente retardar». É cheio de significado este trecho do editorial de CM. É 
evidente que na sua perspectiva há uma linha que divide o “passado” do país 
em: um tempo, mais longínquo, temperado de «esperança num futuro», e um 
outro tempo, mais recente, dominado por uma «geração apoucada» que 
retardou esse futuro. Refere-se provavelmente à 1ª Republica. É uma visão 
partilhada por muitos e que, em última instância, explica o sucesso da 
revolução de 28 de Maio de 1926 (que colocou no poder a ditadura militar que 
antecedeu o Estado Novo). 

Dois anos depois, António Oliveira Salazar assume a pasta das Finanças e 
anuncia que é tempo de «Tomar resolutamente nas mãos as tradições 
respeitáveis do passado, as realidades do presente, os frutos da experiência 
própria e alheia, (…) as justas aspirações dos povos, a ânsia de autoridade e 
disciplina que agita as gerações do nosso tempo, e construir a nova ordem de 
coisas que, sem excluir aquelas verdades substanciais a todos os sistemas 
políticos, melhor se ajuste ao nosso temperamento e às nossas 
necessidades». 

A Feira da Ladra, ao definir-se como «um armazém de velharias; um 
repositório de notícias úteis; um divulgador de inéditos e curiosidades; um  3
orientador de bom gosto; uma fonte inspirativa de artistas e escritores; e, 
finalmente, uma leitura sã e instrutiva» manifesta uma sintonia com o 
discurso governativo, ou seja com o seu propósito de fazer renascer o 
esplendor da Pátria, maltratado por anos de discórdia, de desinteligências 
políticas, de desordem e de quase guerra civil: os anos finais da monarquia e 
os da 1ª República. 

Tal não significa que os colaboradores da Feira da Ladra (e foram muitos) 
fossem simpatizantes do governo e que a publicação se prestasse à promoção 
das suas políticas. O objecto da revista era o passado e não o presente; o 
noticiário é praticamente inexistente. A sintonia verifica-se sim no plano 
ideológico, e ainda assim com algumas clivagens. 

O que ecoa pelas páginas da Feira da Ladra é o discurso nacionalista que 
marcou este período e que tem como referências fundamentais, o território, a 
nação, a história e as tradições. 

Episódios dos descobrimentos marítimos e da colonização alimentam a tese 
de um território nacional alargado − contemplando além da parcela 
metropolitana, os arquipélagos atlânticos dos Açores, Madeira, S. Tomé e 
Príncipe e Cabo Verde, o território da Guiné, o de Angola e o de Moçambique, 
em Africa, Goa, Damão e Diu na Índia e a parte portuguesa da ilha de Timor -, 
mas inalienável. Uma perspectiva que não era novidade, foi mesmo a razão do 
envolvimento português na 1ª Grande Guerra. 

A heráldica, a numismática, os monumentos, factos heróicos e acções 
abnegadas de personagens quase míticas, dão testemunho de uma nação 
estável que soma oitocentos anos de História. 

Mais do que a história, a Feira da Ladra exalta a tradição. Os costumes, as 
formas atávicas de fazer as coisas, de trabalhar, são tema de numerosos 
textos: «Lenços de Namorados»; «”Modesto” jantar de outros Tempos»; 
«Reconstituição de um traje alentejano decaído no último quartel do século 
XIX», entre outros. São elementos fundamentais para a definição do que era 
Portugal, e as diferenças regionais em nada obstam à unidade, à coesão, antes 
são tidos como parte da identidade nacional. 

Lisboa e os seus habitantes são, naturalmente, um tema recorrente na Feira 
da Ladra. É ela, afinal, o centro nevrálgico e histórico da Pátria. 

Também a arte, nas suas mais diversas formas de expressão, e os artistas 
nacionais, são objecto da atenção da Feira da Ladra. No campo da literatura, 
sublinhe-se o facto de ter revelado vários inéditos de Camilo Castelo Branco, 
de D. Carlota Joaquina, de Manuel Fernandes Tomás e de Vieira Lusitano. 

Importa ainda sublinhar os critérios de qualidade e rigor que regem a Feira 
da Ladra. É notória a preocupação em referenciar no tempo e no espaço os 
documentos reproduzidos, de informar o leitor da sua proveniência 
(fornecendo, no caso de documentos pertencentes ao espólio de arquivos ou 
bibliotecas, as respectivas cotas) e de disponibilizar bibliografia complementar.  4
Cuidados que decorrem das habilitações académicas e profissionais dos 
seus colaboradores, muitos dos quais com cargos de direcção em instituições 
como a Academia das Ciências de Lisboa, a Academia Brasileira de Letras, a 
Associação dos Arqueólogos Portugueses, a Escola de Belas Artes de Lisboa, 
a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, o Instituto Histórico do 
Minho, o Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, o Museu 
Municipal do Porto, a Sociedade Nacional de Belas-Artes, entre outros. No 
final do Tomo IX consta uma lista exaustiva com os nomes de todos os 
colaboradores da Feira da Ladra. 

O fim da publicação é anunciado no último número do Tomo IX, através de 
um texto, não assinado, intitulado «Ao Fechar a Porta». Pela forma como está 
redigido e de acordo com as “regras” editoriais da revista, a autoria é do 
Director, ainda Cardoso Marta. E é em tom amargo que evoca os nove anos de 
vida Feira da Ladra, «nove anos de esforço, nem sempre aproveitado; de 
sacrifício, nem sempre compreendido; de cuidados, nem sempre dissipados; 
de dispêndio material, nem sempre recompensado». 


Bibliografia: FRANÇA, José Augusto, A arte em Portugal no séc. XX: 1911-
1961, Venda-Nova, Bertrand, 1991; MARTINS, António Viana, Da I República 
ao Estado Novo, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1976; PIRES, Daniel, Dicionário 
da Imprensa Literária Portuguesa do séc. XX, Lisboa, Grifo, 1996; 
TENGARRINHA, José, História da Imprensa Periódica Portuguesa, 2.ª Edição, 
Lisboa, Caminho, 1989; «Feira da Ladra» e «Marta, António Augusto Cardoso» 
in Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa/Rio de Janeiro, 1989. 




Rita Correia, 
(15.01.2007) 

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